sábado, 24 de abril de 2010

Somos

Vê se te inteiras na realidade, não passamos de bichos sem respeito por outrem. Se fossemos um animal selvagem, de certo, seriamos o predador, atacamos de mansinho, fazendo-nos passar pela presa. Comemos a carne, rapamos os ossos e deixamo-los na rua, para qualquer outro animal, os roer, ficar com os nossos restos.

Nós somos as ‘Viúvas Negras’ em forma humana, depois de o comermos, matamo-lo e voltamos a come-lo.

Somos um monstro gigante, se nos juntarmos, invejadas e desejadas, imaginadas por todos. A excitação não é dúvida , mas sim o sintoma que lhes proporcionamos/provocamos.

Somos o fruto proibido, fim de muitos, perigo, sentença, desejo e desespero…

Somos a carnificina pura, somos:

-Mulheres!!


Christelle

domingo, 18 de abril de 2010

Sim, é triste

E lá estava ele, estatelado no chão, coberto do seu sangue e rodeado de centenas de homens mortos. O seu companheiro correu em seu auxílio, ele ainda respirava, mas, sentindo a morte tão perto, mete a mão ao bolso da camisa, arranca o botão e tira um medalhão de oiro, entregando-o ao seu parceiro, dizendo: “Diz-lhe o quanto a amo e, com isto, prova-lhe que era nela em quem estava a pensar, quando dei o meu ultimo sopro. Diz-lhe, por favor, que… a… amo…!” e dito isto , com o olhar aflito do seu parceiro, foi-se, os seus olhos azuis escuros dilataram, ditando o seu fim.

Uma semana depois, o ‘parceiro’ vai a casa dela, vestindo trajes de luto e transportando um envelope amarelo na sua mão. Toca à campainha, ela abre e deixa-o entrar sem reparar nos pequenos detalhes, ele senta-se e olha para ela:

-Ele: Estiveste a chorar…

-Ela: Estou anceosa pelo seu regresso… - por breves momentos ela pára, olhando para o seu olhar sereno e para as mãos dele – Não… Não é possível, naaaao… - Ela chora desalmadamente, num choro profundo, num choro de amor, um amor perdido, para sempre… ele abraça-a e dá-lhe o medalhão, citando as palavras dele, ela abre a peça de oiro, fica surpresa ao deparar-se com a sua fotografia, a preto e branco, a mais bonita, a do seu casamento.

Quando ele se vai embora, ela vai para o seu quarto, olha-se no espelho do seu toucador, aperta a fotografia do seu amado contra o seu peito. Ela toca no lado vazio da cama e olha pela janela do seu quarto, esperando a sua chegada. Ela cai em si e desmaia no desespero de uma mulher viúva, com apenas vinte anos, carregando no seu ventre o fruto do seu amor com um soldado de frente de guerra.

Christelle.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sexto

Sempre que abro a bem-dita gaveta, mesmo de certa forma com uma certa idade, ele sorri para mim, ainda brilha, eu faço-o brilhar! Nunca pensei que durasse mais que um ano, até porque tenho outros dois a seu lado e sou mulher para os usar ao mesmo tempo.

Sempre que me deito, lá esta ele na gaveta, cheio de tesão a querer escapulir-se para cima de mim, mas eu não deixo, ainda não está o tempo certo para isso, já lhe disse que terá de aguardar pela altura certa, até porque estivemos oito meses descolados, ele na gaveta e eu a chorar para o voltar a ter no meu corpo e exibi-lo, orgulhosa.

Hoje abri a gaveta, toquei-lhe, apertei-o – senti-lo na minha mão fez-me subir mais alto – e disse-lheVais estar activo mais cedo do que pensas, deixa só este tempo passar e deixar-me com mais calor do que estou!”, e sorriu e mandou os outros pró caralho. Talvez para a semana já o use no rio.



*vais voltar a sentir a minha pele, meu estimado e querido Bikinie .



Christelle

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quinto

O primeiro comentário aqui no estaminé veio sob a forma de hate-message. Quererá dizer que daqui a uma semana já seremos tão invejadas quanto A Pipoca Mais Doce ou a Kitty Fane?
E andará, por ventura, alguém na anonimolandia com comichão no escroto?

Saudações:
Christelle & Joan

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Quarto

Estava deitada sobre a mesa, num profundo sono, daqueles que nos atacam assim que acabamos de almoçar. A campainha dá sinal de vida. Num impulso curioso desperto. Os olhos continuam cerrados, mas de ouvidos ‘abertos’ oiço a tua voz, o teu sotaque nortenho. O meu nome sai da tua boca: “Desculpe! Ela mora aqui?”. Ouvindo isto, derrubo a mesa e a minha cadeira. Nem tive noção do que trazia vestido, fico perplexa entre a porta da cozinha e a porta da rua, no meio do corredor. Olho para ti, corro e fecho a porta atrás de mim, encosto-me a ela. Enquanto te olho, não consego evitar o sorriso parvo e os olhos brilhantes. Seguro-te no casaco, abraço-te, volto a olhar-te, inclinando a cabeça para trás para te poder encarar. Faço-te descer um degrau das escadas ao lado da minha porta. Toco-te na face, “Miguel, há quanto ansiava por este momento…”, “Não tanto, quanto eu, decerto!”. O teu sotaque não me é indiferente, excita-me profundamente. Seguro o teu pescoço, beijo os teus lábios, provo o teu sabor, trinco-o num impulso de desejo. As nossas bocas unem-se com tesão, verdadeiro tesão. Sinto aquela adrenalina ‘hardcore’ percorrer-me o corpo todo. Tanto tempo aguardando este inesperado encontro, que vem de mãos dadas com este desejo, que todos os dias íamos pondo num cantinho de nós próprios. Foram tantos dias com desejo em percentagens triplicadas. Desejo esse que transportávamos já nas nossas ‘mãos’. Encostei-me a ti, senti-te, soltou-se uma explosão de fúria avassaladora com ligação directa às minhas zonas erógenas. No meu pensamento, paira uma mensagem já transmitida a ti pelos meus olhos, dizendo que te quero sem corantes nem conservantes, quero-te puro e duro, como Deus nosso Senhor te pôs ao mundo, no caminho do meu. Na quantidade de vezes que sonhei poder tomar-te como meu, trincar o pedaço de pão, sabendo eu que é meu e que posso toma-lo como acto consumado.

Há um brake, entre o beijo já molhado e esfomeado. Acontece que não vinhas só. Trazemos os teus amigos para dentro, lanchamos e jantamos com decência (muito roça-roça de baixo da mesa, ‘me provoca vaii!’). Chega a hora de dormir, puxo-te, tu segues-me em direcção ao meu quarto, damos as boas noites a toda a gente, aos meus pais inclusive, fecho a porta. Deitas-te na minha cama e delicias-te com o meu cheiro nos lençóis, fazes uma cara de satisfação, olhas-me de cima a baixo despindo-me lentamente para ti. O meu vestido cai no chão, as sandálias ficam desarrumadas e subo a cama, pondo-me em cima de ti. “Ai esse perfume de homem...”, eu sei que me desejas tanto ou mais do que eu te desejo, sinto-o, no contacto apuradíssimo das minhas cuecas com os teus boxer’s. Refinado será dizer que as tuas mãos passearam e vaguearam pelo meu corpo, sem pagar portagem na brisa nem estacionamento no monte Everest. Deixas ao Deus dará os teus dedos fazerem traquinices com o meu corpo, que será de mim, “NÃO AGUENTO” – gritei no meu subconsciente – depois de tanto preliminar, acho que o vulcão deve explodir no sítio certo, para não derramar lava em aldeias próximas. Levanto-me e procuro desesperadamente o que nos faria permanecer longe de uma barriga desnecessária na maternidade Daniel de Matos. Enquanto o faço a minha mãe entra no quarto à procura de brincos na minha caixa de preservativos. Tu não paras o manuseamento do instrumento e ela nem sequer se importa com as actividades que exercemos. Olho para ti e digo “Pára!! Deixa um bocado para mim…”. A minha mãe sai, com três pares de brincos nas mãos. Salto para cima do homem do norte e preparo o festim, quando acontece uma desgraça…

“CHRISTELLE!? ACORDA, TENS VACINA HOJE!!!” – será pedir muito que me deixem dormir, pelo menos até comer o gajo todo? Foda-se, que insulencia!!!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Terceiro

Só me lembro de a ver deitada de pernas abertas. Amarrada a uma maca com uma luz forte pendente do tecto, um tanto ou quanto alheia à situação que se passava debaixo do seu feixe.
Lembro-me dos seus gritos lancinantes e de ver as veias no seu pescoço dilatadas. Muito dilatadas. «Vão rebentar», era o que pensava.
As veias dilatadas no seu pescoço, na verdade, acabavam por não ser mais do que um mero pormenor. Tudo naquela mulher estava dilatado. Lembro-me das suas pupilas que me pareceram estranhamente carregadas de substâncias psicotrópicas. Lembro-me dos olhos, esses! (...) Que pareciam saltar mais das órbitas a cada instante que passava, esses! (...) Esses que acabaram por a levar mesmo para outra órbita, mas isso explicarei mais tarde.
Sim, aqueles enormes olhos vermelhos que outrora haviam sido cinzentos, contrastando com o seu lustroso cabelo preto.
Mas mais do que disso tudo, mais do que das mãos inchadas; ou dilatadas, talvez fique melhor; mais do que disso, lembro-me da barriga gigante que carregava o maior mal daquela mulher. Enorme. Redonda. Dilatada.
O resto foi rápido e vago. Um grito mais forte, um espasmo, um micro-segundo de silêncio que talvez na altura até tenha parecido uma eternidade, um corpo a desfalecer na maca fria daquela sala, um último esgar e um fio de sangue que escorreu do seu olho esquerdo. Um rio de sangue, a boa verdade. Uma veia rebentada talvez; ou um cérebro demasiado quente a desfazer-se em papas. Não interessa, um rio a anunciar um fim. Ou talvez um começo.
Recordo-me da cri
atura vestida de branco que espetou um objecto afiado na barriga da mulher, com a maior naturalidade do Universo. «Para ela já é habitual fazê-lo...», foi o que pensei.
Não sei. Não sei de nada. Só sei que talvez me recorde de ouvir um choro ao longe, dentro daquela barriga. O pequeno gorgolejar de quem se afoga na própria desgraça. Talvez.

Joan