Estava deitada sobre a mesa, num profundo sono, daqueles que nos atacam assim que acabamos de almoçar. A campainha dá sinal de vida. Num impulso curioso desperto. Os olhos continuam cerrados, mas de ouvidos ‘abertos’ oiço a tua voz, o teu sotaque nortenho. O meu nome sai da tua boca: “Desculpe! Ela mora aqui?”. Ouvindo isto, derrubo a mesa e a minha cadeira. Nem tive noção do que trazia vestido, fico perplexa entre a porta da cozinha e a porta da rua, no meio do corredor. Olho para ti, corro e fecho a porta atrás de mim, encosto-me a ela. Enquanto te olho, não consego evitar o sorriso parvo e os olhos brilhantes. Seguro-te no casaco, abraço-te, volto a olhar-te, inclinando a cabeça para trás para te poder encarar. Faço-te descer um degrau das escadas ao lado da minha porta. Toco-te na face, “Miguel, há quanto ansiava por este momento…”, “Não tanto, quanto eu, decerto!”. O teu sotaque não me é indiferente, excita-me profundamente. Seguro o teu pescoço, beijo os teus lábios, provo o teu sabor, trinco-o num impulso de desejo. As nossas bocas unem-se com tesão, verdadeiro tesão. Sinto aquela adrenalina ‘hardcore’ percorrer-me o corpo todo. Tanto tempo aguardando este inesperado encontro, que vem de mãos dadas com este desejo, que todos os dias íamos pondo num cantinho de nós próprios. Foram tantos dias com desejo em percentagens triplicadas. Desejo esse que transportávamos já nas nossas ‘mãos’. Encostei-me a ti, senti-te, soltou-se uma explosão de fúria avassaladora com ligação directa às minhas zonas erógenas. No meu pensamento, paira uma mensagem já transmitida a ti pelos meus olhos, dizendo que te quero sem corantes nem conservantes, quero-te puro e duro, como Deus nosso Senhor te pôs ao mundo, no caminho do meu. Na quantidade de vezes que sonhei poder tomar-te como meu, trincar o pedaço de pão, sabendo eu que é meu e que posso toma-lo como acto consumado.
Há um brake, entre o beijo já molhado e esfomeado. Acontece que não vinhas só. Trazemos os teus amigos para dentro, lanchamos e jantamos com decência (muito roça-roça de baixo da mesa, ‘me provoca vaii!’). Chega a hora de dormir, puxo-te, tu segues-me em direcção ao meu quarto, damos as boas noites a toda a gente, aos meus pais inclusive, fecho a porta. Deitas-te na minha cama e delicias-te com o meu cheiro nos lençóis, fazes uma cara de satisfação, olhas-me de cima a baixo despindo-me lentamente para ti. O meu vestido cai no chão, as sandálias ficam desarrumadas e subo a cama, pondo-me em cima de ti. “Ai esse perfume de homem...”, eu sei que me desejas tanto ou mais do que eu te desejo, sinto-o, no contacto apuradíssimo das minhas cuecas com os teus boxer’s. Refinado será dizer que as tuas mãos passearam e vaguearam pelo meu corpo, sem pagar portagem na brisa nem estacionamento no monte Everest. Deixas ao Deus dará os teus dedos fazerem traquinices com o meu corpo, que será de mim, “NÃO AGUENTO” – gritei no meu subconsciente – depois de tanto preliminar, acho que o vulcão deve explodir no sítio certo, para não derramar lava em aldeias próximas. Levanto-me e procuro desesperadamente o que nos faria permanecer longe de uma barriga desnecessária na maternidade Daniel de Matos. Enquanto o faço a minha mãe entra no quarto à procura de brincos na minha caixa de preservativos. Tu não paras o manuseamento do instrumento e ela nem sequer se importa com as actividades que exercemos. Olho para ti e digo “Pára!! Deixa um bocado para mim…”. A minha mãe sai, com três pares de brincos nas mãos. Salto para cima do homem do norte e preparo o festim, quando acontece uma desgraça…
“CHRISTELLE!? ACORDA, TENS VACINA HOJE!!!” – será pedir muito que me deixem dormir, pelo menos até comer o gajo todo? Foda-se, que insulencia!!!